Friday, August 25, 2006

Suando a potes...


Yokkok, 26 agosto 06
Anyong, pessoal!
Sim, estou de volta `a minha Coreia, apos duas semanas simplesmente incriveis na Mongolia, passadas com 6 colegas meus e com os nosso padres e irmas que trabalham na Mongolia.
Porem, nao sera' hoje que vos falarei desta aventura fantastica, pois e' sabado e esta tarde iniciarei uma animacao missionaria num paroquia de Seul. Espero fazer muitos novos benfeitores, mas sobretudo fazer passar a mensagem de que amissao e' muito e os trabalhadores sao poucos... e que estes precisam da ajuda de todos. Bom, a ver vamos...
Para vos deixar alguma "agua na boca", coloco alguma das fotos que fiz na Mongolia; a proposito, fiz quase 1600! Claro, nao todas sairm bem, muitas alias estao desfocadas (e ja' apagadas) porque tiradas com o jipe em movimento.
Mas depoi contar-vos-ei tudo com calma e muito detalhe.
Enquanto vos escrvo, suo a potes; sim, detesto o verao coreano, pois embora nao faca tanto calor como em Portugl, a humidade e' de niveis altissimos: mesmo parados e `a sombra, um nao para de suar!!! E `a noite entao e' que e' suar...
Bom, anyong e ate' mais logo.
Despeco-me com um abracao mega
Vosso mano coreano
EU

Tuesday, August 08, 2006

Mongolia, aqui vou eu!!!


4a feira 9 Agosto 06
Anyong, pessoal!
Pois e', passa-se o tempo e estando tao ocupado... quando dei por ela chegou este dia e, como tal, nao poderei escrever mais, a nao ser este bocadinho. Sim, estou de malas aviadas para a Mongolia, pais onde os nossos colegas padres e irmas trabaham desde ha` 3 anos.
No meu regresso contar-vos-ei tudo, ok?
CXomo infelizmente la' nao ha' praias, espero que nao faca tao humido como aqui... senao vai ter que ser a balde, como o tareco da foto (as trombas dele estao o maximo, nao acham??? ahahahahahahahah)
Despeco-me com um abracao mega e peco-vos uma oracao...
Ficai bem e que o nosso Amigao vos abencoe sempre
E cuidado com o sol...
Anyong!!!

Friday, August 04, 2006

Recordando o passado (2)

Como explica que a Igreja tenha perdido força, tenha falta de recursos humanos, quando tem aparecido novas igrejas ou seitas que conseguem atrair cada vez mais crentes?
Há necessidade da Igreja Católica ter um maior contacto pessoal, sobretudo nas grandes cidades. Quem vai a uma Igreja grande perde-se, não conhece as pessoas que lá estão, muitas vezes não podem falar com o padre porque não o encontram. Há pessoas que sentem necessidade de falar. Durante a minha estadia em Lordelo, vieram pessoas falar comigo para desabafar porque vêm que estou acessível. Há ainda a tendência da Igreja pensar que basta ter número.Outro problema é a falta de recursos humanos, há falta de vocações, há padres que estão a envelhecer, outros que tem que fazer várias paróquias. Os jovens não querem ir para padre. Creio que a Igreja precisa de um abanão para acordar um bocadinho pois teve algo adormecida, apoiada na fama e no poder que tem como instituição. Outro problema tem a ver com a família que mudou muito porque os valores também mudaram, os pais já não educam os filhos, são educados na escola ou na rua. A educação é menos religiosa. Muitas vezes os mais novos não tem o acompanhamento que deviam ter. Por vezes têm más companhias que os levam à droga ou a outras situações más. As pessoas só se preocupam em ganhar dinheiro. Assim, há um decréscimo na família como salvaguarda e transmissora de valores, que levou a sociedade a desinteressar-se da dimensão espiritual. Outra questão prende-se com a formação que é dada aos padres. Alguns julgam-se senhores do mundo e as pessoas afastam-se deles porque não conseguem conciliar as suas necessidades com a maneira de ser do padre. A formação a nível dos missionários é um bocadinho diferente porque nós temos a tendência para contactar melhor com as pessoas.A Igreja usa, ainda, um discurso inadequado. Temos que mudar a mentalidade, não podemos ter uma Igreja em cima e o povo cá em baixo. Tem de estar ao mesmo nível. Tem de haver uma inversão, o padre deve dar o exemplo de um Cristo que é servidor e não servido. A Igreja deve aproveitar a acção dos leigos, envolver todas as pessoas na sua acção. Em vez de dizer “tem que ser assim!”, deve dizer “como devemos fazer?”. A Igreja deve colaborar com as pessoas. O padre da paróquia deve dinamizar a comunidade, os jovens, auxiliar os doentes, ir ao café, enfim, fazer-se visível entre as pessoas para poderem dizer: “este é um dos nossos”. A Igreja deve ser activa e estar perto das pessoas. Há que haver uma mudança porque a sociedade também muda. As seitas religiosas fazem um forte contacto pessoal que a nossa Igreja muitas vezes não faz. O nosso discurso, por vezes não é o mais adequado. Eu conheço padres novos que só falam de teologia; têm que ser mais terra a terra, ouvir o eco das pessoas. Ainda há pessoas que têm medo de falar com o padre. Mas nós padres, não somos mais que os outros, temos é uma experiência que as pessoas não têm. A Igreja tem que dar um grande salto neste aspecto: abrir mais, escutar o que o leigo tem para dizer. A Igreja deve atribuir mais responsabilidades aos leigos, sobretudo às mulheres que são as que vão mais à Igreja e as que tem menos responsabilidades dentro delas. Estou contra isso. Podíamos dar mais voz às mulheres porque são elas que mais constituem a vida da Igreja. A Igreja pode melhorar a nível de base começando pela auto-formação. Eu fui formado num seminário para missionários, com mais abertura. Uma vez fui a um seminário diocesano e aquilo parecia um quartel militar. É preciso mais abertura.
Acha que vai andar por lá muitos anos com a mesma vontade que tem hoje?
Claro que sim. Ainda estou a começar na Coreia. Estou lá há 6 anos e sei que vou ficar mais outros tantos pelo menos. Depois gostava de experimentar a América Latina, é uma outra cultura, tenho colegas latino-americanos. África já não me interessa tanto. Sou um missionário que tenta coisas novas. A Ásia, a Coreia, é completamente novo para a Igreja. Eu decidi arriscar. Sabia que a língua era difícil. Verifiquei que ainda era pior que aquilo que eu pensava. Houve dias que pensei “quem me mandou para aqui, porque não fui para o Brasil ou para outra terra”, mas aceitei o desafio. Agora estou a fruir muito mais porque custou muito ao início. Tive quase um ano sem poder fazer a missa em coreano...
Foi homenageado pela nossa terra. Acha que Lordelo está no bom caminho em termos de apoio social, nível cultural, na mobilização da juventude para actividades e iniciativas que promovam o ideal cristão e o desenvolvimento da nossa freguesia?
Na minha ausência, constato que Lordelo mudou a nível de casas, de habitação. As ruas não são tão boas como deveriam ser. Há muita juventude, ouvi dizer que havia grupos de jovens, mas não vi nada, ninguém me contactou para falar com os jovens da terra. Fiquei contente com o Centro de Dia, é importante porque apoia os idosos, a solidão é um problema muito grave na nossa sociedade. Fiquei contente com a existência de uma biblioteca, a questão da informação e da comunicação é de primaz importância. Lordelo está a crescer, mas é preciso um espírito aventureiro, ir para outras zonas e com essa experiência enriquecer Lordelo. Temos alguns padres lordelenses no estrangeiro – Brasil, África, Coreia – e em Portugal e parece-me que somos mal aproveitados. Devia haver um elo de ligação entre os nossos padres que estão lá fora e a nossa freguesia. Lembro-me que em Itália existe um jornal que chega a todos os emigrantes daquela zona... Uma iniciativa que pretendo abraçar é colaborar com as publicações da nossa terra. O senhor Fraga pediu-me para colaborar com a revista “Presença” da Lord e eu aceitei. É uma forma de abrir os horizontes das pessoas; Lordelo não é só as guerras que tem com Rebordosa, mas é uma freguesia que tem gente que pode ser melhor aproveitada. Tem que se investir muito nos jovens. Vi jovens nas jornadas culturais. Espero que eles façam mais pela terra pois eles têm muito para dar mas é preciso que lhe dêem oportunidades. Lordelo deve crescer, não apenas com prédios – agora discute-se se vai ser cidade ou não –, não é dar nas vistas, mas fazer algo de positivo sem qualquer interesse político ou particular. Lordelo tem ainda, manifestações de um certo bairrismo que demonstra alguma ignorância. A famosa questão das festas é um exemplo. O mundo é muito mais, Lordelo não está isolado do mundo. Não interessa andar aí com vaidades, mas saber o que se pode fazer para contribuir para a terra.
O mundo que o rodeia é feito de muitas injustiças. Após tantos anos em prol dos outros e de Deus, acha que vale a pena continuar a sua missão?
Mais do que nunca. As pessoas só ligam ao Mal, o Bem não é notícia. Por vezes ignora-se que a Igreja e outras religiões estão muito empenhadas na acção social e evangélica – que não são notícias. Não se fala do missionário que perdeu a vida no Congo porque não fugiu da guerra. O amor pela violência é espantoso. Qualquer miúdo vê programas onde só há porrada e violência. No meu tempo víamos desenhos animados que falavam da amizade, do respeito pelo outro. Temos em nós a tendência para o Mal, mas não somos maus, somos bons porque Deus nos criou. Existe uma cultura da violência, do individualismo, do sensacional. Gostamos de ver um desastre enorme porque não somos nós que estamos lá; sentimos um certo fascínio. A comunicação social alimenta aquilo que nós gostamos de ver. Na televisão portuguesa, o horário nobre é preenchido por telenovelas. Ora, um povo alimentado a telenovelas não é inteligente, torna-se passivo, sem espírito crítico. As pessoas interessam-se mais por este tipo de programas do que pelas matanças e atrocidades que acontecerem, por exemplo, no Ruanda, e que acontecem noutros sítios. São indiferentes a essas atrocidades, está-lhes muito longe. Só lêem a Maria, a Caras, a Vip ou outras do género; as pessoas não gostam da vida delas e aspiram a uma vida que não é a delas, tornam-se alienadas, projectam a sua vida na vida dos outros. Assim interessam-se mais pela riqueza do que pela miséria dos outros. Interessa mais o Masterplan – como eu vejo em certos cafés – que o problema de Angola que saiu da guerra e precisa de reconstruir tudo. As pessoas preocupam-se mais por coisas comezinhas sem serem reivindicativas, tornam-se passivas. As pessoas devem reclamar quando tem razão. Olhar para a televisão não muda o mundo, o importante é a relação com os que estão à minha volta. Por vezes as pessoas interessam-se por Timor – e muito bem – mas esquecem-se dos seus vizinhos dos seus familiares. As pessoas vivem perto umas das outras, mas estão cada vez mais sós, sobretudo os idosos. A vida não é só fazer dinheiro, mas ser solidário com os outros. Quando morremos não levamos nada.
Até porque o Teixeira ainda não faz caixões com bolsos...
Exacto. Numa sociedade individualista cada um pensa só para si, mas a vida não sou só eu. Só lembrarmo-nos do sofrimento dos outros quando estamos na mesma situação. Quem vive nos apartamentos sente uma grande desumanização. O meu pai costuma dizer que a nossa família são os nossos vizinhos, devemos criar boas relações porque são eles que nos acodem quando estamos aflitos. Temos potencial para fazermos um mundo melhor, mas isso tem que começar para nós. O fundamental é cimentar boas relações inter-pessoais porque é aí que encontramos Deus. Deus não é um conceito vazio que aprendemos na catequese; Deus é relação, é amor pelos outros. M.C./V.L.
Bom, espero que tenhais gostado. A mim fez-me bem reler esta minha entrevista, pois ajudou-me a contextualizar o que estou viuvendo actualemente. Ou seja, acredito ser importante de vez em quando pararmos e analisarmos o modo como estamos levando a vida. E creio que um dos melhores metodos e' o de recordar as nossas conviccoes pessoais e ver ate' que ponto estamos ou nao sendo fieis a nos proprios.
Bom, termino com umas fotos divertidas, pois a vida nao e' so' feitqa de coisas serias... A primeira pode ser chamada de "Os 3 tenores", enquanto que a 2a expressa o que sinto neste preciso momento: uma enorme vontade de matar a minha sede!!! E' isso que vou fazer...
Ficai bem e ate' mais logo.
Anyong!

Recordando o passado (1)

Sabado, 5 agosto , 10.45h
Anyong, pessoal!!!
Mamma mia, nao imaginais a humudade e calor que faz por estas bandas!!! Nao paro de suar e mesmo com a ventoinha" nas trombas", o suor nao para!!!
Bom, faz dias que nao escrevo nada porque tenho andado deveras ocupado. Como hoje e' abado e tenho ja' o material do proximo numero da revista todo preparado, aproveito para fazer outras coisas; comprei ontem 3 t-shirts brancas, nas quais irei desenhar... tatuagens! Como nao da' para as ter no corpo, coloco-as na roupa; fiz ja' um teste e nao saiu muito bem, por isso espero ter aprendido algo com os erros cometidos... A ver vamos!
Bom, na verdade ontem `a noite tentei olocar algo aqui no blog, mas depois de tudo prontinho... a porcaria dos tipos do blog disseram haverem problemas tecnicos. Assim, tento colocar hoje; enquanto navegava na net procurando fotos para a revista , encontrei uma foto minha... de mim proprio, no Google (Alvaro Pacheco): foi tirada por um jovem da minha terra, o qul me fez uma entrevista em 2002 para o jornal comunista "A Farpa". Foi otimo rever o que lhe disse, pois falo das minhas motivacoes missionarias e de mais coisas... Assim, vou coloca-la aqui, mas em duas partes, pois como sou "fala-barato" a entrevista resultou enorme.
Colocarei tambem a foto que acompanhou o texto na segunda prte do mesmo. Mais logo falar-vos-ei do que fiz durante esta semana passada.
Aqui vai a primeira parte:
Entrevista ao Padre Álvaro Pacheco"A vida é uma missão"
Entre tantos afazeres e compromissos durante as suas férias na nossa terra, o Padre Álvaro Pacheco ainda teve tempo de conversar connosco sobre, entre outros assuntos, a sua experiência de padre missionário na Coreia do Sul e a sua opinião sobre a nossa terra no que diz respeito à evolução material e às mentalidades. Ficou-nos a impressão de um padre aberto aos problemas do mundo, com forte sentido prático e crítico, nomeadamente, em relação ao capitalismo e à globalização. Perfeitamente ciente que a sua acção é de primaz importância, o padre Álvaro alerta para a necessidade de voltar à dimensão espiritual como forma de diminuir a importância dada aos valores materiais vigentes na sociedade contemporânea.
A FARPA - Quando é que percebeu que queria ser padre missionário?
Álvaro Pacheco – Desde pequeno que tinha uma inclinação para tudo que era diferente, gostava muito, por exemplo, de ver programas que falavam de outras culturas, doutros povos, Além disso, fui educado numa família religiosa.A minha mãe era zeladora da Consolata, e os missionários para mim eram aqueles que deixavam a terra – gostava muita desta ideia. Não gostava de ficar sempre em Lordelo, via o pessoal que estava sempre com as mesmas pessoas, com as mesmas coisas, e eu coisa que não gosto é monotonia, gostava de ser missionário ou free-lancer de fotografia, ou futebolista (tinha algum jeito para a bola). Quando vieram ao Ciclo um padre e uma irmã para falar do trabalho dos missionários, antes de eu pensar se queria ir para ali ou para acolá, eu pensava na possibilidade de ir para o seminário para conhecer malta de outras terras, e depois decidir o que realmente eu gostaria de fazer. Ir para Ermesinde, sair de casa na altura, era para mim sinónimo de borga. O ser padre veio mais tarde.Jogávamos futebol todos os dias, conhecíamos malta de todos os lados com feitios muitos diferentes e eu adorava isso. Desde o início tive sempre inclinação para a diversidade, para conhecer coisas novas, fazer novas amizades para além do âmbito de Lordelo. Então quando tive a oportunidade, eu aproveitei-a. Fiz dois anos de estágio no Carnaval e no Verão na Consolata, em Ermesinde. Cheguei ao 7.º ano. Tinha duas possibilidades: uma, era jogar nos Iniciados de Paços de Ferreira – porque eu tinha feito testes e tinha sido chamado – e outra era ir para o seminário. O meu pai disse para escolher uma. Eu optei por Ermesinde (seminário); pois ficava mais longe do que Paços de Ferreira.Fui também devido à minha concepção de vida. Para mim a vida é um dom que Deus nos deu, um dom que deve ser partilhado. Pensava que indo para terras diferentes podia desenvolver este dom de uma maneira receptiva, na medida em que, Deus nos dava muita coisa. Mas também activa, na medida em que eu podia ajudar os outros. Depois também a ideia de fazer da minha vida um serviço aos outros me agradava muito. Via o casamento como uma coisa muito estática. Se eu casasse tinha que ser com uma pessoa que fosse aventureira, que quisesse sair para outros sítios; aqui em Lordelo não há muita gente com estas características. Então optei pela vida de missionário; fui avançando nos estudos. Quando eu tinha 17/18 anos tomei a minha primeira grande decisão: ir para Itália. Acabei os estudos de Filosofia em Lisboa. Ir para Itália era o passo seguinte. Fui progredindo até chegar ao sacerdócio. Foi com uma mistura da paixão pelo novo e com as experiências acumuladas que decidi que era a vida de missionário que me ia realizar como pessoa. E até agora é o que tem acontecido.
O que significa ser padre missionário?
Nunca tive vocação para ser padre de paróquia porque não gosto de estar no mesmo sítio por muito tempo; temos que aturar as pessoas que são, muitas vezes, conflituosas – é uma situação que a mim não me agrada. O padre missionário tem que ter um espírito de disponibilidade. O padre de paróquia, às vezes, não tem porque está dentro de uma terra. Mudar de país implica muita coisa. Eu não sou só português, sou um ser deste mundo que é capaz de se integrar numa cultura porque o estilo da minha vocação leva a isso. Tenho, também, certas qualidades que me permitem ser capaz de chegar a um país e me integrar porque tenho força de vontade e desejo de conhecer, de experimentar coisas novas.Depois há um sentido diferente de responsabilidade. É claro que um padre de paróquia tem muitas responsabilidades; mas nós temos algumas responsabilidades diferentes, por exemplo aprender uma língua nova – no meu caso o coreano -; aprender uma cultura diferente. Assim, um padre missionário tem que encarar a vida como um conjunto de novos começos. O padre de paróquia começa e acaba no mesmo país, o missionário tem ser capaz de se adaptar, e saber que começa algo hoje, e amanhã começa algo diferente. E também saber que a sua vida está ao serviço dos outros. Não faço aquilo que me apetece. Agora estou na Coreia há 6 anos. Sei que vou ter que ficar mais alguns anos e, eventualmente, se me disserem “agora vais para outro lado”, eu vou.
A Igreja Católica na Coreia do Sul, terra onde é minoritária, tem conseguido os seus objectivos e granjear o respeito da população?
A Coreia do Sul é o primeiro país para onde eu fui, não tenho nenhuma experiência anterior à minha ordenação. Na Coreia do Sul a Igreja Católica é minoritária. Porém tem uma posição bastante positiva dentro da sociedade coreana. Sobretudo nos anos 60/70, teve muito ligada à questão dos direitos dos trabalhadores, da justiça e da solidariedade social. A Igreja Católica tem uma boa imagem. O mesmo não acontece com algumas fracções da Igreja Protestante, há algum fundamentalismo. O povo coreano, seja qual for a religião, é muito religioso. Infelizmente, nestes últimos tempos, devido à globalização, ao capitalismo, a dimensão religiosa e espiritual tem sido relegada para segundo plano. Na Coreia há necessidade de um revitalismo espiritual; a Igreja Católica tem tido um certo crescimento devido à boa imagem que já tem, mas também devido aos exemplos que os próprios católicos conseguem dar. Por outro lado, a nível de cúpula, a Igreja Católica tem consciência que está num país onde é minoria, não está a pregar como se tivesse sempre razão, como se os outros fossem filhos do Diabo. Chegando ali, encontramos gentes de outras religiões: monges, pastores, protestantes, budistas coreanos, xamanistas (religiões naturais e locais). A Igreja Católica faz parte, digamos, de uma coligação de religiões que são muito críticas em relação ao Governo, seja ele qual for, nas matérias de solidariedade social, dos direitos do trabalho e da paz, devido ao problema com a Coreia do Norte. A nossa Igreja tem um papel activo; tenta incutir à sociedade que não é só o material que conta, tem o papel de dizer que precisamos de Deus mas não no sentido de dizer que os católicos é que tem razão. O que importa é ver o que temos em comum com outras religiões. Temos, antes de tudo, a defesa da dignidade humana, nos aspectos da paz, da justiça, da solidariedade numa sociedade que deixa de lado os mais pobres, os mais idosos... O importante é ver o que podemos fazer juntos para melhorar a sociedade. Como missionários da Consolata estamos envolvidos em certos grupos... Há todos os anos um campo de férias inter-religioso onde temos a possibilidade de ter experiências com pessoas de outras religiões trocando impressões e vivências espirituais. A nossa atitude é apresentar aquilo que somos, a nossa riqueza sem imposição, numa abertura ao diferente. O ideal para todas as religiões é a melhoria da condição humana, sobretudo a nível social porque na Coreia houve bastantes mudanças nos últimos anos que provocou um grande relativismo a nível dos valores, a nível da espiritualidade. Nós tentamos ajudar as pessoas a terem consciência que precisamos de Deus, tentar encontrar Deus no dia-a-dia porque temos a ideia, muitas vezes, que Deus está num plano muito acima de nós. Ora, Deus está no meio de nós. As pessoas devem ter essa vivência ajudando o próximo. A Igreja ajuda os católicos coreanos a colaborar na reivindicação dos seus direitos. Ainda há pouco tempo, antes de vir de férias, foi lá um leigo à minha paróquia agradecer por termos participado nas manifestações contra os americanos devido a umas bases militares que estão em terras coreanas das quais os americanos se apropriaram aquando da guerra das Coreias. Não querem sair de lá; os católicos consideram isso injusto e participaram nas manifestações. Foi o nosso contributo para dizer que estamos preocupados com o nosso povo.