Friday, February 23, 2007

Reflexoes sobre a vida...

Yokkok, 24 Fevereiro 07
Anyong, minha gente.
Faz tempo que nao escrevo, verdade? Pois bem, andando eu muito ocupado com o meu trabalho, o qual inclui escrever semanalmente para o sito da nossa revista tuga e ocasionalmente para uma revista da minha terra natal. Assim, aproveito o artigo que recentemente escrevi para esta ultima (chama-se Preseca) para partilhar convosco alguns pensamentos meus ...

Olá a todos! Estamos celebrando o Ano Novo do calendário chinês aqui na Coreia do Sul (17-19 Fevereiro) e, como tal, não quero deixar de vos desejar mais uma vez um Feliz Ano Novo. É tradição, seja na China como aqui na Coreia, aproveitar o longo feriado nacional para uma visita à terra natal, onde se encontram familiares e amigos após muitos meses de ausência e se presta homenagem aos antepassados. Assim, são milhares as pessoas que se deslocam kms e kms, usando os mais variados meios de transporte, para passarem uns dias em família. Dizem as estatísticas que cerca de 30 dos 48 milhões de coreanos irão deslocar-se nos próximos dias! Porém, para alguns estes dias são tudo menos alegres e festivos. Entre eles encontram-se os solteiros, sobretudo se têm mais de 30 anos, e os desempregados. E porquê “sofrem” eles? Porque estar solteiro ou não ter trabalho é considerado um fracasso, uma vergonha. Claro que, caso a situação não tenha melhorado no ano que vem, estas vítimas de “assédio emocional” continuarão a sofrer até que vejam melhorado o seu estatuto social. A sociedade é extremamente competitiva e é muito difícil que um indivíduo consiga “sobreviver” por sua conta: ou seja, um indivíduo existe enquanto membro de um grupo, senão é considerado “anormal ou estranho” e repudiado pelos demais. Das várias as razões para este tipo de valores, escolho uma delas: a importância da imagem. Para um coreano, é importante ter ou dar uma imagem de sucesso, de bem-estar, mesmo que essa imagem nem sempre corresponda à realidade. Certo, este valor está presente em muitas outras sociedades e culturas, incluindo a nossa portuguesa, mas creio que aqui está presente de um modo muito mais acentuado. Basta mencionar o facto de que a maior parte dos suicídios, os quais alcançaram níveis deveras assustadores nestes últimos anos, se devem a questões de “honra e prestígio”: ou porque se perdeu o emprego, ou porque se é menos inteligente na escola (caso de vários estudantes, jovens e até mesmo crianças), ou porque o stress e pressão para estar no topo da fama (no caso de cantores e actores de cinema/televisão ou de presidentes de companhias, entre outros), o método mais honrado e que menos vergonha causará à família é o do suicídio. Assim, em vez de se viver com menos posses, mas mesmo assim de forma digna, muitos escolhem a via do suicídio, pois a pressão social é deveras acentuada e sufocante. Tanto que, há tempos atrás, os meios de comunicação social alertavam para o facto desta sociedade se estar tornando cada vez menos humana. A vida passa a ter valor só em termos económicos; a gratuidade, o altruísmo, a solidariedade vão-se perdendo aqui e ali, se bem que, comparados com outros povos, os coreanos sejam talvez dos mais generosos quando uma calamidade ocorre “dentro de casa”.
A estes problemas junta-se outro, muito comum nas sociedades ditas modernas e em relação ao qual a Coreia não é excepção: o crescente envelhecimento das populações. Bem pelo contrário, a sociedade coreana é uma das que mais tem envelhecido nas últimas décadas, tanto que o governo, após ter lançado o alerta, saiu com várias propostas, sendo uma delas aumentar o número de gémeos. Sobre esta proposta escrevi há dias um artigo para o sito da nossa revista portuguesa “Fátima Missionária”: deixo-vos uma parte do mesmo e o comentário que lhe fiz.

“O governo coreano anuncia medidas para combater a baixa taxa de natalidade com meios artificiais, seguindo a tendência no que toca a produtos alimentares e métodos de beleza
(…) De facto, espera-se que o número de gémeos coreanos aumente para o dobro ao longo deste ano.
Segundo estudos feitos, a possibilidade de que os bebés sejam gémeos por método natural é de um a cinco em cem, enquanto que com a fecundação artificial é de três em dez. (…)O que é certo é que a população está a envelhecer a um ritmo veloz. O governo terá de considerar outras opções mais viáveis e “naturais”, como, por exemplo, apoiar casais jovens que desejam ter filhos e, porque não, integrar os emigrantes na sociedade de uma forma mais positiva, mais digna e tolerante.”
Sim, creio que è fundamental revalorizar a vida, ou seja, criar condições para que as pessoas sejam, por um lado, reconhecidas como tal e não como meras “máquinas de produção” e, por outro, que viver não se transforme em algo artificial, sem sabor, sem valor, sem partilha, sem tolerância, sem diversidade… Vivemos num mundo que cada vez mais se divide entre os que têm (sempre uma minoria) e os que não têm (são cada vez mais a maioria), entre os que podem e os que não podem. A ideia de “aldeia global” (=globalização) está destruindo, no meu ver, a riqueza cultural dos povos, a riqueza da diversidade e da potencialidade inerente a cada ser humano. Será a democracia o único sistema politico possível? Serão os jeans única moda e o Mc’Donalds a única comida possíveis? Serão os modelos de desenvolvimento, de beleza, de ideologia do mundo ocidental os únicos validos? Não creio! Vivendo num país tão diferente do nosso, posso assegurar-vos que as melhores experiências que tenho feito são precisamente as que me colocam em confronto positivo e construtivo com esta cultura; cada vez mais vou descobrindo a beleza e o espírito criativo de Deus no contacto com as pessoas e na descoberta das bases desta cultura. O povo coreano é um povo extremamente orgulhoso, no bom sentido, mas é com pena que vejo que tantos jovens e adultos consideram a cultura ocidental como sendo o modelo a seguir. De facto, os estragos que estão surgindo, seja a nível social que cultural, são devidos a esta tentativa de assimilar valores que nada ou pouco têm a ver com a natureza deste povo. A uniformidade tem feito estragos irreversíveis: basta ver a guerra no Iraque, onde os americanos e seus aliados teimam em estabelecer a democracia à ocidental, mas o que estão conseguindo fazer é levar o país às ruínas e à guerra civil. Para concluir, gostaria só de recordar a famosa frase de Jesus (Mateus 7:12): “Faz aos outros o que queres que te seja feito.” Ou seja, este nosso mundo seria muito diferente se todos pusessem em prática esta simples, mas exigente norma. Porém, não basta cruzar os braços e dizer que nada podemos fazer: há que olhar à nossa volta e ver que há tanto a mudar, mas o primeiro a ter de mudar… somos nós próprios.
Um abracao
Fotos: 1. Eu com duas senhoras da primeira paroquia onde estive
2. Simpatica foto de um pai e filho; creio sejam coreanos... Encontrei-a num sito italiano e esta' demais!!!
3. Casal de uma tribo da tailandia (foto que fiz em outubro 2006)

Tuesday, February 06, 2007

Mais 3 dias de exploracao e visitas...












30 Janeiro-1 Março 07

Jambo, jambo.
Eis-me de regresso a Nairobi, após 3 dias incríveis pela zona de Kisumu, no nordeste deste belo país. Sim, pude constatar pelas viagens que fiz que o Kenya é, de facto, um país rico em beleza natural e humana. Pena é que seja tão pobre... Sim, como em muitos outros países desta África negra, depois que os europeus colonizadores se foram, o país ficou na miséria, sobretudo a nível económico. Certo, rico também os há, e não são poucos, mas restam sempre uma pequena parcela da população. Passando por outras áreas do país, pude constatar que não é só Nairobi que, com os seus muitos bairros-de-lata, está povoada de pobreza e miséria com níveis assustadores e preocupantes. Há uma enorme multidão de gente que vive sem acesso à electricidade e à água potável, a uma casa com condições mínimas de conforto... À noite, não me saía da cabeça a escuridão profunda em que muitos, por causa da falta de electricidade, se encontram diáriamente. Ainda por cima dormindo eu num quarto amplo, com rede para proteger dos mosquitos, com casa de banho privativa, com água corrente... e ali ao lado, a poucos metros da nossa propriedade, gente sem quase nada.
Mas vi também um povo que não se deixa levar pela pobreza, que resiste e sobrevive apesar de tudo; vi crianças que sorriem e jogam como se o pouco que elas possuem fosse o melhor o mundo; vi mulheres que, apesar do peso da vida (sentido figurativo) e das coisas materiais necessárias para viver (sentido literal), não se deixam levar pela desilusão e lutam pelo melhor futuro possível para os seus filhos; vi idosos que, apesar das amarguras e dificuldades da vida, conseguemne ainda trocar e gozar uma boa cavaqueira com os amigos...
Bom, iniciei a viagem pouco depois das 11h da manhã de 3ª feira, 30. O nosso padre keniano Awiti era o condutor e acompanhava-nos um leigo da Nova Zelândia, o qual participou nos 2 Fóruns: teológico e social. Tem 5 filhos e trabalha na comissão da Justiça e Paz lá no seu país. Chama-se David e ajudar-me-á mais tarde com um artigo sobre a Igreja na Nova Zelândia. A nossa primeira paragem foi para... almoçar! A viagem continuou, por estradas nem sempre amigas dos carros, mas lá chegamos ao destino. A caminho, deparamos com... macacos `a berma da estrada, os quais estao habituados que se lhes de comida. Mas nao se aproximaram do nosso, talvez por verem 2 brancos "raros"....
Ainda antes de chegarmos ao destino, passamos por zonas onde o que ha' mais sao campos de cha. Vimos nao so' pessoas recolhendo o dito cujo, como duas "estranhas" aldeias, as quais eram coracterizadas por muitas casinhas juntas; so' que o padre Awiti dizia que estas eram muito pequenas e desconfortaveis... mas que, como acontece sempre com o "ze' povinho" em todos os paises, os pobres sao sempre explorados ate dizer "basta!" Eis na foto parte de uma destas aldeias. Parámos um instante no nosso centro de animação missionária, o qual nada tem a ver com a realidade que o circonda; certo, não se pode trabalhar vivendo em cabanas ou casas pobres, mas não deixa de ser “chocante” ver o contraste profundo que existe. Antes que anoitecesse, fomos ver o sol “recolher aos seus aposentos” ; não deu para fazer grandes fotos: o céu estava muito nublado, mas pelas duas fotos que se seguem, podeis ver que até não sairam mal de todo. E lá se foi mais um dia...


E mais uma...

4ª Feira amanheceu nublada, mas, mais uma vez, o nosso Amigão resolvou dizer a São Pedro para aguentar a chuva até à manhã do dia seguinte; assim, tivemos mais um dia de sol e amenas temperaturas, se bem que à noite, estranhamente, tenha feito sempre uma humidade bastante acentuada. La' nos fizemos `a estrada; pelo caminho, vimos muita gente caminhando com vegetais e fruta `as costas ou `a cabeca, todas em direccao a um grande mercado numa pequena cidade da zona. Interessante foi notar que... so' as mulheres e animais de carga carregavam com as coisas: os homens so' o faziam com carro-de-mao, carros ou furgonetas, pois nao e' de homem um homem carregar coisas... A primeira paragem esta' ligada com uma das razões desta segunda viagem: a visita à família do meu colega Joseph Otieno, que faleceu na Coreia em dezembo de 2005. Infelizmente, a mãe não estava: tinha saído de manhã cedo para um funeral. Mas ao menos pude conversar com o pai, o qual estava sozinho em casa (e' ele comigo nesta foto).Ficou contente não só com o que eu lhe disse sobre o seu filho, mas também com as fotos da missa do primeiro aniversário que celebrámos lá na Coreia em dezembro passado. Claro, partiu-me o coração sentir a sua dor, mas vi também que a família tenta levar a vida para a frente por quanto lhes seja possível. Espero que o dinheiro do seguro que a Samsung concedeu à família, pois o meu colega estava inserido num grupo de estrangeiros devidamente assegurado, possa chegar-lhes em breve: as burocracias coreanas ainda não permitiram que o dinheirto fosse transferido aqui para o Kenya. Gostei muito de ter ido até ali, pois era como visitar a minha própria família, e sentir que fui instrumento da consolação de Deus para esta família. Espero que um dia seja possível irem à Coreia, tal como é seu desejo...
Seguimos viagem, parando na igreja paroquial onde o meu colega Otieno tinha celebrado a primeira missa e outras mais. Estando perto a hora do tacho, o Awiti onvidou-nos para ir a sua casa; encontrámo os seus pais, curiosamente... fervorosos membros de uma igreja protestante; creio que o pai seja meio pastor, pois dizia fazer sermões aos domingos. São só 3 os membros católicos da família; mas gostei de ver que os pais estão felizes e orgulhosos por terem um filho padre, pois, como dizia o pai, o importante é anunciar o evangelho a quem não o conhece. Sao eles que estao comigo na foto: pais e filho. Para melhor verem a foto, aconselho-vos a clicar em cima da mesma, de modo a verem a versao maior ( o mesmo vale para todas as outras!) Após um ótimo almoço e animada conversa, retomámos a estrada... mas deparámos com um acidente brutal, tão brutal que até saiu no noticiário nacional ao fim do dia. Morreram 8 pessoas num embate frontal entre um “matatu” (carrinha de 9 lugares que leva sempre mais passageiros do que os permitidos pela lei; de facto, antigamente eram mais de 20 por veses, mas uma lei recente desceu o número para... 14!) e um pequeno autocarro; parece que este sofreu o arrebentament de um pneu e bateu frontalmente no “matatu”. Quando chegámos ao local do acidente, os corpos das vítimas tinham já sido retirados.
Fomos dali para uma das duas paróquias que ainda são orientadas pelo nosso Instituto: Aluendo. Mas os nossos padres não estavam, de maneira que a visit foi rápida. Porem, gostei de ver um jovem artista pintando a Via Sacra nas paredes da igreja, a qual tem pouco mais de 1 ano. Na foto podeis constatar a sua mestria, sobretudo porque o faz em estilo africano. Seguimos para a segunda paróquia nossa, a qual estava longe da estrada principal e, tenho chovido muito no dia anterior, as estradas estavam impraticáveis, pois eram em terra baida. No regresso, tive inclusivé que sair do carro parar arrumar umas pedras de modo a que o carro pudesse passar. Esta paróquia, Chiga, tem um pequeno centro médico, um dispensário, uma escola tácnica, um pequeno centro de fornecimento de água potável e arroz para a populução local. É uma missão ao estilo antigo e típico de anos passados, porém dizia-me o Awiti que a escola técnica tem os dias contados... caso o número de alunos que a frequenta continue a diminuir.
Antes da janta, demos ainda um salto ao Lago Vitória, mas desta vez não deu pra ver... a água. É que parte do lago está coberto por espessa camada de vegetação; a única água que se via era usada para lavar os “matatu” e pequenos autocarros.
À noite, vi então o noticiário e fui dormir mais cedo, pois estava arrebentado. No dia seguinte, regressámos a Nairobi, mas por uma outra estrada, de modo a vermos um pouco mais do Kenya; pelo caminho, conseguimos avistar um pequeno grupo de girafas! Fiquei contente, pois como não deu para fazer nenhum safari, pude ao menos ver um minimo de animais no seu habitat natural. O almoço foi na zona Masai-Mara, a qual tem um parque natural muito famoso; pena não ter dado para lá ir... mas como não vim ao Kenya só para passear, não me posso queixar. Bem pelo contrário: vivi e experimentei o que nenhum turista pode experimentar, pois visitei locais e pessoas que nunca contactam com estrangeiros... a não ser que sejam missionários. Gostei imenso dos mercados, quase todos `a beira da estrada principal; sempre que nos viam, esperavam que os "mzungos" (brancos) saissem e lhes comprassem algo, pois nao serao muitos os mzungos que passam por aquelas bandas.Tivemos tempo ainda para comprar mais umas lembrançazitas numa loja ali perto do local onde almocamos. Esta zona Masai era mais vasta, com pouca vegetação e escassamente povoada, ao contrário de Kisumu.

E chegámos a Nairobi depois das 5h da tarde, cansados mas felizes pela experiência, sobretudo porque tudo tinha corrido extremamente bem.
E... faltam-me 2 dias para regressar à minha Coreia. Amanhã irei poder recordar o coreano, pois irei almoçar com uma jovem leiga missionária coreana; no sábado será a vez de almoçar com os familiares do meu colega Peter, para depois abalar por volta das 10h da noite rumo a Bangkok: chegarei à Coreia na 2ª feira de madrugada, pois em Bangkok terei de esperar quase 11 horas! Será uma enorme seca, mas prefiro estar ali a secar do que ter perdido 2 dias caso tivesse viajado com outra companhia aérea.
Minha gente... vou nanar!
Asante sana...

Nairobi-Dakar


28 – 29 Janeiro 07

Jambo, jambo pessoal!
Como sabeis, estive vários dias fora de Nairobi, visitando comunidades nossas, algumas das quais têm já muitos anos de actividade. Estas viagens foram inesquecíveis, tal como tem sido toda esta minha primeira aventura africana. Começo pelos dois dias em que, juntamente com 3 padres tugas, viajei por algumas das mais importantes e históricas missões do nosso Instituto. Foi nos passados dias 28 e 29 de janeiro: a nossa viagem iniciou bem cedo, de modo a evitar tráfico. Assim, saímos às 6h da manhã, quando o sol ainda não se tinha levantado. A nossa primeira etapa foi Tuhtu, o local onde os primeiros missionários da Consolata que chegaram ao Kenya em 1902 celebraram a primira missa.




Capela de Thutu


Padre Tobias (esquerda) e Fernandes durante a nossa missa.



Eu com outros padres tugas.



Mas antes de vos descrever o que senti e vivi... deixai-me explicar o porquê da minha escolha do título.
Confesso-vos que só na Mongólia vivi uma experiência automobilística (não sei isto é português, mas creio que entendeis) parecida com a dos passados dias 28 e 29! Dou graças a Deus por termos regressado sãos e salvos, pois foi de facto uma aventura ao estilo do rali Lisoa-Dakar. Até pelo ar andámos, tal como nos ralis, ao passar uma rampa que o padre Tobias não conseguiu evitar; haviam dezenas de rampas ao longo da estrada, daquelas que obrigam os motoristas a reduzirem a velocidade. Mas estas eram muito altas e, como não estavam assinaladas, nem sempre era possível vê-las a tempo; ou seja, demos cada salto; só na Mongólia experimentei sensações parecidas... Mas não foi só por isto que rezei muito durante a viagem: o nosso padre Tobias conduzia a 100km quase todo o tempo, várias vezes a 120km e algumas a 140km... mas em estradas nem sempre lisas; acho que o pobre do jipe Suzuki não se irá esquecer destes 2 dias, tal como eu e os outros 2 tugas. Mas, por outro lado, tenho de agradecer os nosso “vizinhos” japoneses por terem criado um jipezito tão robusto! É muito pequenino (eu parecia uma sardinha enlatada!), mas deu bem conta do recado! Mas o meu maior agradecimento é dirigido ao padre Tobias, pela sua amabilidade e dispononibilidade, pois proporcionou-nos dois dias maravilhosos. Valeu o faco de ele ter já sido superior regional aqui no Kenya e conhecer bem todos os cantos e caminhos. A primeira estrada que mais parecia feita para ralis levava-nos a Tuhtu; mamma mia, que viagem. Mas lá chegamos ao destino; foi uma sensação indescritível a que senti, pois estava finalmente no local onde, praticamente, teve início a aventura missionária do nosso Instituto. Naquele local, um descampadozito perto de uma pequena povoação, encontra-se uma capela construída para comemorar o centenário de missão no Kenya (inaugurada a 15 de Agosto 2002); celebrámos a eucaristia nós o 4, em nome de todos os nossos missionários (vivos e defuntos). Mais abaixo, encontra-se a igraja paroquial de Tuhtu;


Um jovem da paroquia de Thutu

encontrámos vários paroquianos, só que naquele dia o pároco não iria estar presente, por isso fariam somente a celebração da Palavra.
Seguindo viagem, contornámos o Monte Kenya (é alto quase 6 mil metros); rumámos em direcção ao Norte; parámos numa nossa missão, mas o pároco não estava; do alto de uma colina podíamos contemplar a grandiosidade daquela que tinha sido, em tempos passados, a nossa grande missão do Nyeri;


Panoramica de Mathari (Nyeri), do que foi antes parte do nosso "imperio"

actualmente, está nas mãos da diocese local. Sendo horas do tacho, fomos a um restaurante que se encontrava ao longo de uma estrada, mas do qual se via só a tabuleta. Descendo uns 100 metros, encontrava-se o que mais parecia a casa do Tarzan: era construído literalmente numa enorme árvore. A foto mostra que nao estou a contar tretas...Chamava-se “TreeTrout = Árvore das Trutas” e, tal como o nome indica, as trutas eram a especialidade. Podíamos ver nas árvores que nos circundavam macacos com longas caudas brancas, sendo o resto da pelagem negra. Eis um belo exemplar:Retomando a estrada, após uns kms chegámos ao hemisfério norte do planeta; ou seja, passamos a linha do Equador. Eis a foto...Após a foto e umas compras rápidas, seguimos caminho em direcção Mukululu, zona onde se encontra uma das mais incríveis obras do nosso Instituto; o seu autor é o Irmão Argese, italiano, o qual construiu, ao longo de vário anos, todo um sistema de canais e tubos que levam a água da serra a mais de 250 mil pessoas!!! De facto, foi homenageado pelas Nações Unidas e várias outras entidades por este projecto. Eu já tinha ouvido falar dele, claro, mas uma coisa é ter ouvido falar... outra é ver com os próprios olhos. E fiquei deslumbrado, tal como o Fernandes, que como eu estava pela primeira vez na África e no Kenya. É uma obra simplesmente fabulosa, por várias razões: está em sintonia com o ambiente que a rodeia, usa materiais e obra-prima local e é parte integrante do projecto evangélico de promoção humana. As pessoas em vez de se deslocarem vários kms para irem buscar água podem agora tê-la na própria aldeia; para além do mais, é água tratada e, como tal, a saúde das pessoas melhorou bastante. Creio que o elemento que mais caracteriza e destaca esta obra grandiosa é o facto do Irmão Argese empregar pessoas locais. De facto, quando o padre Elísio foi ali com um grupo de tugas nossos benfeitores, alguns deles perguntavam: “Porque não utiliza ele buldozers e outra maquinaria? Porque é quase tudo feito à mão? Esta pessoas parecem “escravos.” Como lhes respondeu o Irmão Argese? Com palavras como estas: “Em vez de usar maquinarias, eu uso o dinheiro para dar emprego e salários às pessoas; ao mesmo tempo, elas recebem formação profissional, a qual lhes permite viverem com mais dignidade e serem donas do seu próprio destino.” Ou seja, ele não lhes dá o peixe, como muitos fazem, mas ensina-os a pescar! É, de facto, um projecto monumental e uma forma muito concreta de proclamar o evangelho de consolação que Jesus transmitiu a tantos. Mas, no meu ver, o elemento mais positivo deste projecto é o facto de estar em sintonia com o contexto onde se encontra e de não depender exclusivamente do nosso Irmão Argese; creio que quando chegar a altura de ele se ir, o projecto não acabará só porque ele já não estará presente.
Antes do anoitecer demos então uma volta pelas colinas por onde passam os tubos que levam a água a milhares de pessoas, as quais não necessitam de fazer vários kms para irem buscar este bem tão perecioso que é a água. Foram construídas várias digas para retenção da água e o projecto continua avançando, pois o Irmão Argese quer que a água chegue a muitas mais comunidades. Mas não é só de água que o Irmão tem feito projectos; além do alargamento da igreja, a qual será transformada em pequeno santuário, está iniciando um projecto de producção de vinho, propondo a várias famílias o início de vinhais para producção mais alargada de vinho. O que é certo é que ideias não lhe faltam, bem como benfeitores e, quanto às gentes do local, estas estão dispostas a aprenderem sempre mais de modo a melhorarem a qualidade das dsuas vidas. Após o descanso nocturno, na manhã de 2ª feira o Irmão mostrou-nos e explicou-nos tudo tintin por tintin. Agora terei de arranjar material para depois elaborar um texto na nossa revista coreana, pois este é um projecto que merece ser conhecido e difundido também lá no Extremo Oriente. Seguimos caminho em direccao a Meru, onde visitamos a catedral (na foto);
esta mesma foi construida tambem pelo Irmao Argese, juntamente com outros missionarios. Partimos depois para uma outra missão, a qual tem também um projecto de ajuda às pessoas do local: a carpintaria da missão de Mujwa, dirigida por um nosso padre espanhol e que conta com a colaboração de um leigo italiano, irmão de um nosso missionário. Mas este leigo, Daniele, não me era desconhecido, pois não mora longe de onde fiz o ano de noviciado, na Itália; de facto, visitáva-nos de vez em quando. Já nessa altura, 15 anos atrás, ele vinha ao Kenya várias vezes para ajudar em projectos vários. Na foto estao alguns dos jovens que trabalham na carpintaria:Certo que foi com muita alegria que o vi aqui após tantos anos. Mas o pior foi chegar ali: uma estrada “dos diabos”, pois tinha chovido dias antes e estava impraticável. De facto, cheguei a pensr que iríamos ficar ali. Mas o padre Tobias e o co-piloto chamado Espírito Santo foram melhores que os do rali Lisboa-Dakar. Graças à amabilidade do padre espanhol, ficámos para almoçar. Mas tivemos de sair correndo, pois o tempo era pouco e queríamos ainda chegar a Sagana, local onde temos mais uma parte do nosso “império”: escolas técnicas de vários rmo, uma casa de retiros, o noviciado e mais algumas estruturas. Mais uma vez, vi vários padres de quem só tinha ouvido falar e, como todos os outros, foram muito simpáticos e acolhedores.
E regressámos a Nairobi, a tempo da janta... mas só após um duche reconfortante, pois o pó e o cansaço eram em demasia. Mas, como já referi, foram 2 dias impecáveis. Fiquei a conhecer melhor parte do nosso Instituto e a dar mais valor aos nossos missionários, pois é diferente ouvir falar e conhecer em pessoa, seja o que se faz como quem o faz. Agradeço ao nosso Amigão por esta oportunidade que me deu.
Esta ultima foto e' so' uma "curiosidade"... Creio ser o mais pequeno hotel do mundo!

Asante sana