Friday, August 04, 2006

Recordando o passado (1)

Sabado, 5 agosto , 10.45h
Anyong, pessoal!!!
Mamma mia, nao imaginais a humudade e calor que faz por estas bandas!!! Nao paro de suar e mesmo com a ventoinha" nas trombas", o suor nao para!!!
Bom, faz dias que nao escrevo nada porque tenho andado deveras ocupado. Como hoje e' abado e tenho ja' o material do proximo numero da revista todo preparado, aproveito para fazer outras coisas; comprei ontem 3 t-shirts brancas, nas quais irei desenhar... tatuagens! Como nao da' para as ter no corpo, coloco-as na roupa; fiz ja' um teste e nao saiu muito bem, por isso espero ter aprendido algo com os erros cometidos... A ver vamos!
Bom, na verdade ontem `a noite tentei olocar algo aqui no blog, mas depois de tudo prontinho... a porcaria dos tipos do blog disseram haverem problemas tecnicos. Assim, tento colocar hoje; enquanto navegava na net procurando fotos para a revista , encontrei uma foto minha... de mim proprio, no Google (Alvaro Pacheco): foi tirada por um jovem da minha terra, o qul me fez uma entrevista em 2002 para o jornal comunista "A Farpa". Foi otimo rever o que lhe disse, pois falo das minhas motivacoes missionarias e de mais coisas... Assim, vou coloca-la aqui, mas em duas partes, pois como sou "fala-barato" a entrevista resultou enorme.
Colocarei tambem a foto que acompanhou o texto na segunda prte do mesmo. Mais logo falar-vos-ei do que fiz durante esta semana passada.
Aqui vai a primeira parte:
Entrevista ao Padre Álvaro Pacheco"A vida é uma missão"
Entre tantos afazeres e compromissos durante as suas férias na nossa terra, o Padre Álvaro Pacheco ainda teve tempo de conversar connosco sobre, entre outros assuntos, a sua experiência de padre missionário na Coreia do Sul e a sua opinião sobre a nossa terra no que diz respeito à evolução material e às mentalidades. Ficou-nos a impressão de um padre aberto aos problemas do mundo, com forte sentido prático e crítico, nomeadamente, em relação ao capitalismo e à globalização. Perfeitamente ciente que a sua acção é de primaz importância, o padre Álvaro alerta para a necessidade de voltar à dimensão espiritual como forma de diminuir a importância dada aos valores materiais vigentes na sociedade contemporânea.
A FARPA - Quando é que percebeu que queria ser padre missionário?
Álvaro Pacheco – Desde pequeno que tinha uma inclinação para tudo que era diferente, gostava muito, por exemplo, de ver programas que falavam de outras culturas, doutros povos, Além disso, fui educado numa família religiosa.A minha mãe era zeladora da Consolata, e os missionários para mim eram aqueles que deixavam a terra – gostava muita desta ideia. Não gostava de ficar sempre em Lordelo, via o pessoal que estava sempre com as mesmas pessoas, com as mesmas coisas, e eu coisa que não gosto é monotonia, gostava de ser missionário ou free-lancer de fotografia, ou futebolista (tinha algum jeito para a bola). Quando vieram ao Ciclo um padre e uma irmã para falar do trabalho dos missionários, antes de eu pensar se queria ir para ali ou para acolá, eu pensava na possibilidade de ir para o seminário para conhecer malta de outras terras, e depois decidir o que realmente eu gostaria de fazer. Ir para Ermesinde, sair de casa na altura, era para mim sinónimo de borga. O ser padre veio mais tarde.Jogávamos futebol todos os dias, conhecíamos malta de todos os lados com feitios muitos diferentes e eu adorava isso. Desde o início tive sempre inclinação para a diversidade, para conhecer coisas novas, fazer novas amizades para além do âmbito de Lordelo. Então quando tive a oportunidade, eu aproveitei-a. Fiz dois anos de estágio no Carnaval e no Verão na Consolata, em Ermesinde. Cheguei ao 7.º ano. Tinha duas possibilidades: uma, era jogar nos Iniciados de Paços de Ferreira – porque eu tinha feito testes e tinha sido chamado – e outra era ir para o seminário. O meu pai disse para escolher uma. Eu optei por Ermesinde (seminário); pois ficava mais longe do que Paços de Ferreira.Fui também devido à minha concepção de vida. Para mim a vida é um dom que Deus nos deu, um dom que deve ser partilhado. Pensava que indo para terras diferentes podia desenvolver este dom de uma maneira receptiva, na medida em que, Deus nos dava muita coisa. Mas também activa, na medida em que eu podia ajudar os outros. Depois também a ideia de fazer da minha vida um serviço aos outros me agradava muito. Via o casamento como uma coisa muito estática. Se eu casasse tinha que ser com uma pessoa que fosse aventureira, que quisesse sair para outros sítios; aqui em Lordelo não há muita gente com estas características. Então optei pela vida de missionário; fui avançando nos estudos. Quando eu tinha 17/18 anos tomei a minha primeira grande decisão: ir para Itália. Acabei os estudos de Filosofia em Lisboa. Ir para Itália era o passo seguinte. Fui progredindo até chegar ao sacerdócio. Foi com uma mistura da paixão pelo novo e com as experiências acumuladas que decidi que era a vida de missionário que me ia realizar como pessoa. E até agora é o que tem acontecido.
O que significa ser padre missionário?
Nunca tive vocação para ser padre de paróquia porque não gosto de estar no mesmo sítio por muito tempo; temos que aturar as pessoas que são, muitas vezes, conflituosas – é uma situação que a mim não me agrada. O padre missionário tem que ter um espírito de disponibilidade. O padre de paróquia, às vezes, não tem porque está dentro de uma terra. Mudar de país implica muita coisa. Eu não sou só português, sou um ser deste mundo que é capaz de se integrar numa cultura porque o estilo da minha vocação leva a isso. Tenho, também, certas qualidades que me permitem ser capaz de chegar a um país e me integrar porque tenho força de vontade e desejo de conhecer, de experimentar coisas novas.Depois há um sentido diferente de responsabilidade. É claro que um padre de paróquia tem muitas responsabilidades; mas nós temos algumas responsabilidades diferentes, por exemplo aprender uma língua nova – no meu caso o coreano -; aprender uma cultura diferente. Assim, um padre missionário tem que encarar a vida como um conjunto de novos começos. O padre de paróquia começa e acaba no mesmo país, o missionário tem ser capaz de se adaptar, e saber que começa algo hoje, e amanhã começa algo diferente. E também saber que a sua vida está ao serviço dos outros. Não faço aquilo que me apetece. Agora estou na Coreia há 6 anos. Sei que vou ter que ficar mais alguns anos e, eventualmente, se me disserem “agora vais para outro lado”, eu vou.
A Igreja Católica na Coreia do Sul, terra onde é minoritária, tem conseguido os seus objectivos e granjear o respeito da população?
A Coreia do Sul é o primeiro país para onde eu fui, não tenho nenhuma experiência anterior à minha ordenação. Na Coreia do Sul a Igreja Católica é minoritária. Porém tem uma posição bastante positiva dentro da sociedade coreana. Sobretudo nos anos 60/70, teve muito ligada à questão dos direitos dos trabalhadores, da justiça e da solidariedade social. A Igreja Católica tem uma boa imagem. O mesmo não acontece com algumas fracções da Igreja Protestante, há algum fundamentalismo. O povo coreano, seja qual for a religião, é muito religioso. Infelizmente, nestes últimos tempos, devido à globalização, ao capitalismo, a dimensão religiosa e espiritual tem sido relegada para segundo plano. Na Coreia há necessidade de um revitalismo espiritual; a Igreja Católica tem tido um certo crescimento devido à boa imagem que já tem, mas também devido aos exemplos que os próprios católicos conseguem dar. Por outro lado, a nível de cúpula, a Igreja Católica tem consciência que está num país onde é minoria, não está a pregar como se tivesse sempre razão, como se os outros fossem filhos do Diabo. Chegando ali, encontramos gentes de outras religiões: monges, pastores, protestantes, budistas coreanos, xamanistas (religiões naturais e locais). A Igreja Católica faz parte, digamos, de uma coligação de religiões que são muito críticas em relação ao Governo, seja ele qual for, nas matérias de solidariedade social, dos direitos do trabalho e da paz, devido ao problema com a Coreia do Norte. A nossa Igreja tem um papel activo; tenta incutir à sociedade que não é só o material que conta, tem o papel de dizer que precisamos de Deus mas não no sentido de dizer que os católicos é que tem razão. O que importa é ver o que temos em comum com outras religiões. Temos, antes de tudo, a defesa da dignidade humana, nos aspectos da paz, da justiça, da solidariedade numa sociedade que deixa de lado os mais pobres, os mais idosos... O importante é ver o que podemos fazer juntos para melhorar a sociedade. Como missionários da Consolata estamos envolvidos em certos grupos... Há todos os anos um campo de férias inter-religioso onde temos a possibilidade de ter experiências com pessoas de outras religiões trocando impressões e vivências espirituais. A nossa atitude é apresentar aquilo que somos, a nossa riqueza sem imposição, numa abertura ao diferente. O ideal para todas as religiões é a melhoria da condição humana, sobretudo a nível social porque na Coreia houve bastantes mudanças nos últimos anos que provocou um grande relativismo a nível dos valores, a nível da espiritualidade. Nós tentamos ajudar as pessoas a terem consciência que precisamos de Deus, tentar encontrar Deus no dia-a-dia porque temos a ideia, muitas vezes, que Deus está num plano muito acima de nós. Ora, Deus está no meio de nós. As pessoas devem ter essa vivência ajudando o próximo. A Igreja ajuda os católicos coreanos a colaborar na reivindicação dos seus direitos. Ainda há pouco tempo, antes de vir de férias, foi lá um leigo à minha paróquia agradecer por termos participado nas manifestações contra os americanos devido a umas bases militares que estão em terras coreanas das quais os americanos se apropriaram aquando da guerra das Coreias. Não querem sair de lá; os católicos consideram isso injusto e participaram nas manifestações. Foi o nosso contributo para dizer que estamos preocupados com o nosso povo.

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