Wednesday, September 13, 2006

Diario da viagem `a Mongolia 2

17 agosto
Começamos o nosso passeio a Ulaan Baatar com uma visita ao bispo Wenseslaus, filipino e um dos primeiros missionários a chegar à Mongólia há 14 anos atrás. Acolheu-nos muito familiarmente e contou-nos a sua experiência missionária, bem como a história desta jovem Igreja católica mongola. Conta com 345 católicos, mais de 100 catecúmenos (que se preparam para receberem o baptismo), 3 paróquias, 5 capelanias e muitas actividades de carácter social e caritativo. Visitámos em seguida o Museu de História Natural, onde a atracção principal são os fósseis de dinossauros encontrados na zona do deserto dos Gobi (no sul da Mongólia). À noite, antes da janta, assistimos a um espectáculo de música e danças tradicionais… o qual foi verdadeiramente um espectáculo!!! São muito mais vivas do que as nossas músicas coreanas… Encontrámos ali 3 italianos que estavam viajando por estas bandas: tinham feito a Transiberiana (combioio que atravessa toda a Rússia e chega até à China!!!) e regressariam a casa partindo de avião na China. Vieram connosco para jantar na casa das irmãs uma deliciosa macarronata!
18 agosto
Iniciámos a nossa viagem de 4 dias em direcção ao sudoeste, para visitar a cidade, Harweher, onde os nossos colegas irão iniciar a segunda comunidade. Será a primeira presença católica naquela cidade de 22 mil pessoas. Infelizmente, as nossas freirinhas não puderam vir connosco. Apenas for a da cidade, deparámos com extensões imensas de estepes desabitadas; são poucos os centros habitados: o característico é uma “gher” aqui, outra a vários km de distância… Encontrámos pela primeira vez camelos; numa zona, há uma faixa de areal que se prolonga por várias centenas de km: algo insólito, pois é uma longa faixa de areia em meio dos prados imensos. A nossa primeira etapa é a cidade de Karkhorim, antiga capital do império mongolo (ao tempo do Ghenghis Khaan) que foi depois destruída pelos chineses. A cidade é agora famosa pelas muralhas e pavilhões que restam do templo budista, o qual era outrora esplendoroso; chama-se Ertene Zuu e data de 1600. À noite, por causa do frio que faz, decidimos não dormir em tendas, mas sim num campo de “gher”. A casa de banho é uma “barraca” com o buraco no meio, escavado na terra; sim, estávamos experimentando o que é ser mongolo a 99%, pois a 100% é… ao ar livre, atrás de uma qualquer colina!!! O duche ficava para o dia seguinte…
19 agosto
Antes de deixarmos a cidade, visitámos um monumento dedicado a Ghenghi Khann, no qual estão representados os períodos da conquista do império mongolo, o qual chegou até à Europa!!! Incrível como um exército a cavalo, tendo partido desta remota parte do mundo, tenha conseguido semelhante façanha! Depois do almoço tipo pic-nic a caminho da próxima paragem, chegámos a um templo budista construído séculos atrás no topo de um colina rochosa. São vários os “indígenas” que o visitam, sobretudo idosos. Neste templo viveu, por um tempo, o primeiro líder budista mongolo, o qual é uma das figuras proeminentes desta nação: era não só monge, como filósofo, escritor, e portador de outros títulos. Enfim, era um “cérebro” e pêras! A subida para o templo pode também ser feita, em parte, a cavalo: eu fi-la, mas como os cavalos são pequenos e a sela era apertada, decide regressar a pé. O pobre do cavalo também pediu demissão após a chegada ao cimo, pois poucos “indígenas” têm o meu porte… Dali partimos para outro campo de “gher” situado ao lado de uma cascata famosa na Monólia, creio que por ser das poucas existentes. Neste campo foi possível tomar banho e jantar como num restaurante: o tacho estava uma delícia!!!
20 agosto
Começamos por visitor a dita cascata, antes de continuar a nossa viagem. Para viajar por onde viajámos são necessárias várias coisas, mas duas são fundamentais: ter um bom jipe todo-terreno e um “indígena” que conheça bem as estradas ou então que saiba perguntar e acertar com o que lhe foi dito por parte de quem habita na zona. Aparece então um dos momentos mais marcantes desta viagem, bem como o único triste e incrivelmente desumano: deparámos com um vale imenso cuja terra foi esventrada para que milhares de pessoas procurem o “pó precioso”, ou seja, ouro! Muitos estão ali vai fazer 2 anos e as condições de trabalho e de vida são horrorosas e desumanas; há famílias inteiras ali, muitas crianças e mulheres cujo semblante é triste e sujo de tanto pó… Nunca tinha visto tal! Infelizmente, é uma situação que atrai muita gente, pois a maior parte dos mongolos são pobres. E para fugir à miséria muitos estão dispostos a tudo ou quase tudo… Ficámos todos muito tristes ao depararmos com esta situação, sobretudo os nossos colegas que estão na Mongólia, pois aquela zona pertence, em teoria, à área da cidade onde irão trabalhar. Os locais chamam a estas pessoas “ninja”, pois muito carregam um balde (para com a água separarem a terra do ouro), imagem parecida com as famosas tartaruga-ninja.
À noite chegámos finalmente a Harweher, que é capital de região. A casa que os nossos colegas alugaram não está ainda pronta a 100%, por isso não pudemos dormir nela; esperemos que esteja pronta para finais de Setembro. Jantámos ali perto e fomos depois dormir num pequeno hotel ali perto; de hotel só tinha nome, mas mesmo assim tinha boas condições; era mais propriamente uma pensão. Mas antes da nana joguei ainda bilhar com alguns colegas e o motorista mongolo.
21 agosto
Começamos o dia com uma visita ao museu e ao mercado local. Adorei, pois fiz boas fotos e, como gosto do que é tradicional e característico de uma região ou nação, pude ver muitas pessoas com trajes tradicionais, bem como a vida como é vivida na região. No mercado, haviam também produtos chineses, russos e coreanos; este mercado é o principal fornecedor da região. Para nosso espanto, vimos alguns cadernos com artistas coreanos na capa
Bom, quanto à nossa presença missionária, ela será a primeira católica em absoluto na região. Desejámos aos nossos colegas muitas felicidades e sorte, pois sabemos que não será nada fácil trabalhar ali. Retomámos a estrada de regresso à capital, desta vez pela estrada asfaltada e mais directa, se bem que durante uma boa parte do percurso a viagem tenha de ser feita não na estrada mas ao lado, em estradas de terra feitas por gente que não suportava os intermináveis buracos; assim, criaram-se estradas alternativas não planeadas pelas autoridades locais. Depois de várias horas de viagem, intervaladas por paragens para comer ou “mudar o óleo” ou esticar o pernil… eis que avistámos a capital! Infelizmente, os nosso colegas ainda não tinham água quente, mas valeram-nos as freirinhas que tinham aquecido várias panelas dela… Foi um dos melhores banhos que tomei em toda a minha vida!!!
22 agosto
Bom, último dia na Mongólia. Como dizia o outro, “tudo o que ’e bom acabada depressa!” Mas como é assim mesmo, o importante é, como digo eu, que tenha acabado bem! Certo? Cansados da memorável viagem, decidimos dormir um pouco mais e tomar as coisas com calma: assim, após um bom descanso, fomos cumprimentar o padre Kim, nosso “conterrâneo” coreano, o qual é pároco da paróquia dos nossos manos e manas. Eu tinha-o entrevistado para a nossa revista o ano passado aqui na Coreia, pois ele tinha vindo angariar fundos para construir a igreja que vimos em fase de construção. De momento, celebra a missa e outras funções numa grande “gher”. Em seguida, fomos ao centro da cidade fazer compras de lembranças para amigos e família. À tarde, após uma boa sesta, fomos celebrar a missa na paróquia onde tínhamos estado de manhã; os participantes eram quase todos catecúmenos muito jovens, crianças incluídas, e surpreendeu-nos a devoção e entusiasmo com que participavam e cantavam. Impressionou-nos também ver o nosso mano Giorgio, um dos primeiros a iniciar a nossa presença na Mongólia, falar o mongolo com um à-vontade espantoso. Ele dizia que tinha ainda um nível muito simples, mas era modéstia sua, pois todos dizem que fala muito bem. Quem nos dera que fosse assim com o coreano…
Antes de partirmos para o aeroporto, pois o voo era às 11h da noite, convidámos os nossos manos e manas da Mongólia a um jantar de agradecimento: fomos a um restaurante famoso na capital, se bem que a fama de churrascaria seja só isso mesmo: fama, pois não fazem a carne ao estilo de churrasco. Enfim, o importante foi agradecermos aos nossos manos e manas pela fantástica experiência que nos proporcionaram. Jamais a esqueceremos, sobretudo eu, pois ADOREI A 100%!
E como tudo na vida, também a nossa viagem à Mongólia chegou a seu termo. Chegava a hora de regressarmos à humidade horrível da nossa Coreia, deixando para trás as frescas e secas noites mongolas. Veremos como continuar estes nossos contactos no futuro, mas certamente terá sido a primeira e última vez que fomos lá em grupo tão numeroso. Tudo o resto que não vos pude contar são os gestos diários de simpatia, de atenção, de detalhes que fizeram com que esta nossa visita fosse um encontre de família, um visitar a nossa própria casa. Assim, sentimos agora mais do que nunca a Mongólia como parte de nós! Nossa Senhora da Consolata está presente na Ásia e quer-nos muito, a nós seus filhos e ilhas missionárias.
Bom, quanto às fotos, mandar-vos-ei por e-mail o sito onde elas se encontram. Mas convém que leiais este diário, de modo a entenderdes cada uma delas.
Despeço-me por hoje com um abração mega… e se algum de vós algum dia tiver a oportunidade de ir à Mongólia, recomendo-vos a 100%. Claro, mas primeiro tereis de passar por cá…

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