Friday, February 23, 2007

Reflexoes sobre a vida...

Yokkok, 24 Fevereiro 07
Anyong, minha gente.
Faz tempo que nao escrevo, verdade? Pois bem, andando eu muito ocupado com o meu trabalho, o qual inclui escrever semanalmente para o sito da nossa revista tuga e ocasionalmente para uma revista da minha terra natal. Assim, aproveito o artigo que recentemente escrevi para esta ultima (chama-se Preseca) para partilhar convosco alguns pensamentos meus ...

Olá a todos! Estamos celebrando o Ano Novo do calendário chinês aqui na Coreia do Sul (17-19 Fevereiro) e, como tal, não quero deixar de vos desejar mais uma vez um Feliz Ano Novo. É tradição, seja na China como aqui na Coreia, aproveitar o longo feriado nacional para uma visita à terra natal, onde se encontram familiares e amigos após muitos meses de ausência e se presta homenagem aos antepassados. Assim, são milhares as pessoas que se deslocam kms e kms, usando os mais variados meios de transporte, para passarem uns dias em família. Dizem as estatísticas que cerca de 30 dos 48 milhões de coreanos irão deslocar-se nos próximos dias! Porém, para alguns estes dias são tudo menos alegres e festivos. Entre eles encontram-se os solteiros, sobretudo se têm mais de 30 anos, e os desempregados. E porquê “sofrem” eles? Porque estar solteiro ou não ter trabalho é considerado um fracasso, uma vergonha. Claro que, caso a situação não tenha melhorado no ano que vem, estas vítimas de “assédio emocional” continuarão a sofrer até que vejam melhorado o seu estatuto social. A sociedade é extremamente competitiva e é muito difícil que um indivíduo consiga “sobreviver” por sua conta: ou seja, um indivíduo existe enquanto membro de um grupo, senão é considerado “anormal ou estranho” e repudiado pelos demais. Das várias as razões para este tipo de valores, escolho uma delas: a importância da imagem. Para um coreano, é importante ter ou dar uma imagem de sucesso, de bem-estar, mesmo que essa imagem nem sempre corresponda à realidade. Certo, este valor está presente em muitas outras sociedades e culturas, incluindo a nossa portuguesa, mas creio que aqui está presente de um modo muito mais acentuado. Basta mencionar o facto de que a maior parte dos suicídios, os quais alcançaram níveis deveras assustadores nestes últimos anos, se devem a questões de “honra e prestígio”: ou porque se perdeu o emprego, ou porque se é menos inteligente na escola (caso de vários estudantes, jovens e até mesmo crianças), ou porque o stress e pressão para estar no topo da fama (no caso de cantores e actores de cinema/televisão ou de presidentes de companhias, entre outros), o método mais honrado e que menos vergonha causará à família é o do suicídio. Assim, em vez de se viver com menos posses, mas mesmo assim de forma digna, muitos escolhem a via do suicídio, pois a pressão social é deveras acentuada e sufocante. Tanto que, há tempos atrás, os meios de comunicação social alertavam para o facto desta sociedade se estar tornando cada vez menos humana. A vida passa a ter valor só em termos económicos; a gratuidade, o altruísmo, a solidariedade vão-se perdendo aqui e ali, se bem que, comparados com outros povos, os coreanos sejam talvez dos mais generosos quando uma calamidade ocorre “dentro de casa”.
A estes problemas junta-se outro, muito comum nas sociedades ditas modernas e em relação ao qual a Coreia não é excepção: o crescente envelhecimento das populações. Bem pelo contrário, a sociedade coreana é uma das que mais tem envelhecido nas últimas décadas, tanto que o governo, após ter lançado o alerta, saiu com várias propostas, sendo uma delas aumentar o número de gémeos. Sobre esta proposta escrevi há dias um artigo para o sito da nossa revista portuguesa “Fátima Missionária”: deixo-vos uma parte do mesmo e o comentário que lhe fiz.

“O governo coreano anuncia medidas para combater a baixa taxa de natalidade com meios artificiais, seguindo a tendência no que toca a produtos alimentares e métodos de beleza
(…) De facto, espera-se que o número de gémeos coreanos aumente para o dobro ao longo deste ano.
Segundo estudos feitos, a possibilidade de que os bebés sejam gémeos por método natural é de um a cinco em cem, enquanto que com a fecundação artificial é de três em dez. (…)O que é certo é que a população está a envelhecer a um ritmo veloz. O governo terá de considerar outras opções mais viáveis e “naturais”, como, por exemplo, apoiar casais jovens que desejam ter filhos e, porque não, integrar os emigrantes na sociedade de uma forma mais positiva, mais digna e tolerante.”
Sim, creio que è fundamental revalorizar a vida, ou seja, criar condições para que as pessoas sejam, por um lado, reconhecidas como tal e não como meras “máquinas de produção” e, por outro, que viver não se transforme em algo artificial, sem sabor, sem valor, sem partilha, sem tolerância, sem diversidade… Vivemos num mundo que cada vez mais se divide entre os que têm (sempre uma minoria) e os que não têm (são cada vez mais a maioria), entre os que podem e os que não podem. A ideia de “aldeia global” (=globalização) está destruindo, no meu ver, a riqueza cultural dos povos, a riqueza da diversidade e da potencialidade inerente a cada ser humano. Será a democracia o único sistema politico possível? Serão os jeans única moda e o Mc’Donalds a única comida possíveis? Serão os modelos de desenvolvimento, de beleza, de ideologia do mundo ocidental os únicos validos? Não creio! Vivendo num país tão diferente do nosso, posso assegurar-vos que as melhores experiências que tenho feito são precisamente as que me colocam em confronto positivo e construtivo com esta cultura; cada vez mais vou descobrindo a beleza e o espírito criativo de Deus no contacto com as pessoas e na descoberta das bases desta cultura. O povo coreano é um povo extremamente orgulhoso, no bom sentido, mas é com pena que vejo que tantos jovens e adultos consideram a cultura ocidental como sendo o modelo a seguir. De facto, os estragos que estão surgindo, seja a nível social que cultural, são devidos a esta tentativa de assimilar valores que nada ou pouco têm a ver com a natureza deste povo. A uniformidade tem feito estragos irreversíveis: basta ver a guerra no Iraque, onde os americanos e seus aliados teimam em estabelecer a democracia à ocidental, mas o que estão conseguindo fazer é levar o país às ruínas e à guerra civil. Para concluir, gostaria só de recordar a famosa frase de Jesus (Mateus 7:12): “Faz aos outros o que queres que te seja feito.” Ou seja, este nosso mundo seria muito diferente se todos pusessem em prática esta simples, mas exigente norma. Porém, não basta cruzar os braços e dizer que nada podemos fazer: há que olhar à nossa volta e ver que há tanto a mudar, mas o primeiro a ter de mudar… somos nós próprios.
Um abracao
Fotos: 1. Eu com duas senhoras da primeira paroquia onde estive
2. Simpatica foto de um pai e filho; creio sejam coreanos... Encontrei-a num sito italiano e esta' demais!!!
3. Casal de uma tribo da tailandia (foto que fiz em outubro 2006)

2 comments:

mrssilva17 said...

Padre Alvaro!
Nao sabia que tinha um blog!
Eu tambem tenho.
Depois vou ler com calma.

Grande abraco.

mrssilva17 said...

Gostei do seu blog!
Eu tambem tenho um:www.mrssilva17.blogspot.com
Um abraco.