Tuesday, February 06, 2007

Nairobi-Dakar


28 – 29 Janeiro 07

Jambo, jambo pessoal!
Como sabeis, estive vários dias fora de Nairobi, visitando comunidades nossas, algumas das quais têm já muitos anos de actividade. Estas viagens foram inesquecíveis, tal como tem sido toda esta minha primeira aventura africana. Começo pelos dois dias em que, juntamente com 3 padres tugas, viajei por algumas das mais importantes e históricas missões do nosso Instituto. Foi nos passados dias 28 e 29 de janeiro: a nossa viagem iniciou bem cedo, de modo a evitar tráfico. Assim, saímos às 6h da manhã, quando o sol ainda não se tinha levantado. A nossa primeira etapa foi Tuhtu, o local onde os primeiros missionários da Consolata que chegaram ao Kenya em 1902 celebraram a primira missa.




Capela de Thutu


Padre Tobias (esquerda) e Fernandes durante a nossa missa.



Eu com outros padres tugas.



Mas antes de vos descrever o que senti e vivi... deixai-me explicar o porquê da minha escolha do título.
Confesso-vos que só na Mongólia vivi uma experiência automobilística (não sei isto é português, mas creio que entendeis) parecida com a dos passados dias 28 e 29! Dou graças a Deus por termos regressado sãos e salvos, pois foi de facto uma aventura ao estilo do rali Lisoa-Dakar. Até pelo ar andámos, tal como nos ralis, ao passar uma rampa que o padre Tobias não conseguiu evitar; haviam dezenas de rampas ao longo da estrada, daquelas que obrigam os motoristas a reduzirem a velocidade. Mas estas eram muito altas e, como não estavam assinaladas, nem sempre era possível vê-las a tempo; ou seja, demos cada salto; só na Mongólia experimentei sensações parecidas... Mas não foi só por isto que rezei muito durante a viagem: o nosso padre Tobias conduzia a 100km quase todo o tempo, várias vezes a 120km e algumas a 140km... mas em estradas nem sempre lisas; acho que o pobre do jipe Suzuki não se irá esquecer destes 2 dias, tal como eu e os outros 2 tugas. Mas, por outro lado, tenho de agradecer os nosso “vizinhos” japoneses por terem criado um jipezito tão robusto! É muito pequenino (eu parecia uma sardinha enlatada!), mas deu bem conta do recado! Mas o meu maior agradecimento é dirigido ao padre Tobias, pela sua amabilidade e dispononibilidade, pois proporcionou-nos dois dias maravilhosos. Valeu o faco de ele ter já sido superior regional aqui no Kenya e conhecer bem todos os cantos e caminhos. A primeira estrada que mais parecia feita para ralis levava-nos a Tuhtu; mamma mia, que viagem. Mas lá chegamos ao destino; foi uma sensação indescritível a que senti, pois estava finalmente no local onde, praticamente, teve início a aventura missionária do nosso Instituto. Naquele local, um descampadozito perto de uma pequena povoação, encontra-se uma capela construída para comemorar o centenário de missão no Kenya (inaugurada a 15 de Agosto 2002); celebrámos a eucaristia nós o 4, em nome de todos os nossos missionários (vivos e defuntos). Mais abaixo, encontra-se a igraja paroquial de Tuhtu;


Um jovem da paroquia de Thutu

encontrámos vários paroquianos, só que naquele dia o pároco não iria estar presente, por isso fariam somente a celebração da Palavra.
Seguindo viagem, contornámos o Monte Kenya (é alto quase 6 mil metros); rumámos em direcção ao Norte; parámos numa nossa missão, mas o pároco não estava; do alto de uma colina podíamos contemplar a grandiosidade daquela que tinha sido, em tempos passados, a nossa grande missão do Nyeri;


Panoramica de Mathari (Nyeri), do que foi antes parte do nosso "imperio"

actualmente, está nas mãos da diocese local. Sendo horas do tacho, fomos a um restaurante que se encontrava ao longo de uma estrada, mas do qual se via só a tabuleta. Descendo uns 100 metros, encontrava-se o que mais parecia a casa do Tarzan: era construído literalmente numa enorme árvore. A foto mostra que nao estou a contar tretas...Chamava-se “TreeTrout = Árvore das Trutas” e, tal como o nome indica, as trutas eram a especialidade. Podíamos ver nas árvores que nos circundavam macacos com longas caudas brancas, sendo o resto da pelagem negra. Eis um belo exemplar:Retomando a estrada, após uns kms chegámos ao hemisfério norte do planeta; ou seja, passamos a linha do Equador. Eis a foto...Após a foto e umas compras rápidas, seguimos caminho em direcção Mukululu, zona onde se encontra uma das mais incríveis obras do nosso Instituto; o seu autor é o Irmão Argese, italiano, o qual construiu, ao longo de vário anos, todo um sistema de canais e tubos que levam a água da serra a mais de 250 mil pessoas!!! De facto, foi homenageado pelas Nações Unidas e várias outras entidades por este projecto. Eu já tinha ouvido falar dele, claro, mas uma coisa é ter ouvido falar... outra é ver com os próprios olhos. E fiquei deslumbrado, tal como o Fernandes, que como eu estava pela primeira vez na África e no Kenya. É uma obra simplesmente fabulosa, por várias razões: está em sintonia com o ambiente que a rodeia, usa materiais e obra-prima local e é parte integrante do projecto evangélico de promoção humana. As pessoas em vez de se deslocarem vários kms para irem buscar água podem agora tê-la na própria aldeia; para além do mais, é água tratada e, como tal, a saúde das pessoas melhorou bastante. Creio que o elemento que mais caracteriza e destaca esta obra grandiosa é o facto do Irmão Argese empregar pessoas locais. De facto, quando o padre Elísio foi ali com um grupo de tugas nossos benfeitores, alguns deles perguntavam: “Porque não utiliza ele buldozers e outra maquinaria? Porque é quase tudo feito à mão? Esta pessoas parecem “escravos.” Como lhes respondeu o Irmão Argese? Com palavras como estas: “Em vez de usar maquinarias, eu uso o dinheiro para dar emprego e salários às pessoas; ao mesmo tempo, elas recebem formação profissional, a qual lhes permite viverem com mais dignidade e serem donas do seu próprio destino.” Ou seja, ele não lhes dá o peixe, como muitos fazem, mas ensina-os a pescar! É, de facto, um projecto monumental e uma forma muito concreta de proclamar o evangelho de consolação que Jesus transmitiu a tantos. Mas, no meu ver, o elemento mais positivo deste projecto é o facto de estar em sintonia com o contexto onde se encontra e de não depender exclusivamente do nosso Irmão Argese; creio que quando chegar a altura de ele se ir, o projecto não acabará só porque ele já não estará presente.
Antes do anoitecer demos então uma volta pelas colinas por onde passam os tubos que levam a água a milhares de pessoas, as quais não necessitam de fazer vários kms para irem buscar este bem tão perecioso que é a água. Foram construídas várias digas para retenção da água e o projecto continua avançando, pois o Irmão Argese quer que a água chegue a muitas mais comunidades. Mas não é só de água que o Irmão tem feito projectos; além do alargamento da igreja, a qual será transformada em pequeno santuário, está iniciando um projecto de producção de vinho, propondo a várias famílias o início de vinhais para producção mais alargada de vinho. O que é certo é que ideias não lhe faltam, bem como benfeitores e, quanto às gentes do local, estas estão dispostas a aprenderem sempre mais de modo a melhorarem a qualidade das dsuas vidas. Após o descanso nocturno, na manhã de 2ª feira o Irmão mostrou-nos e explicou-nos tudo tintin por tintin. Agora terei de arranjar material para depois elaborar um texto na nossa revista coreana, pois este é um projecto que merece ser conhecido e difundido também lá no Extremo Oriente. Seguimos caminho em direccao a Meru, onde visitamos a catedral (na foto);
esta mesma foi construida tambem pelo Irmao Argese, juntamente com outros missionarios. Partimos depois para uma outra missão, a qual tem também um projecto de ajuda às pessoas do local: a carpintaria da missão de Mujwa, dirigida por um nosso padre espanhol e que conta com a colaboração de um leigo italiano, irmão de um nosso missionário. Mas este leigo, Daniele, não me era desconhecido, pois não mora longe de onde fiz o ano de noviciado, na Itália; de facto, visitáva-nos de vez em quando. Já nessa altura, 15 anos atrás, ele vinha ao Kenya várias vezes para ajudar em projectos vários. Na foto estao alguns dos jovens que trabalham na carpintaria:Certo que foi com muita alegria que o vi aqui após tantos anos. Mas o pior foi chegar ali: uma estrada “dos diabos”, pois tinha chovido dias antes e estava impraticável. De facto, cheguei a pensr que iríamos ficar ali. Mas o padre Tobias e o co-piloto chamado Espírito Santo foram melhores que os do rali Lisboa-Dakar. Graças à amabilidade do padre espanhol, ficámos para almoçar. Mas tivemos de sair correndo, pois o tempo era pouco e queríamos ainda chegar a Sagana, local onde temos mais uma parte do nosso “império”: escolas técnicas de vários rmo, uma casa de retiros, o noviciado e mais algumas estruturas. Mais uma vez, vi vários padres de quem só tinha ouvido falar e, como todos os outros, foram muito simpáticos e acolhedores.
E regressámos a Nairobi, a tempo da janta... mas só após um duche reconfortante, pois o pó e o cansaço eram em demasia. Mas, como já referi, foram 2 dias impecáveis. Fiquei a conhecer melhor parte do nosso Instituto e a dar mais valor aos nossos missionários, pois é diferente ouvir falar e conhecer em pessoa, seja o que se faz como quem o faz. Agradeço ao nosso Amigão por esta oportunidade que me deu.
Esta ultima foto e' so' uma "curiosidade"... Creio ser o mais pequeno hotel do mundo!

Asante sana





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