Friday, January 19, 2007

Porque tanta miseria?

18 Janeiro 07

Jambo, pessoal!

Quero começar por vos dizer que ... este jamais esquecerei este dia! A razão principal chama-se Kibera, o maior bairro-de-lata da África. Já tinha ouvido falar nele, mas nãio estava nada à espera do que vi com os meus próprios olhos.
Bom, do início: tive que madrugar, pois quis acompanhar o padre Tobias ao aeroporto: fomos buscar dois missionários nossos, um italiano que eu não via também há mais de 10 anos, e o nosso padre Elísio, director da nossa revista missionária portuguesa. Passei depois o resto da manhã aqui diante do computador, actualizando o meu diário. O padre Elísio perguntou-me se me podia acompanhar na visita a Kibera erespondi-lhe que sim, pois não haveria qualquer problema. Fui ainda a um supermercadio aqui perto e a um mercado de coisas artesanais e típicas do Kenya. Só que me assediavam continuamente, querendo que lhes comprasse nem que fosse um mínima coisa. Lá tive que explicar a um bom número deles que tinha apenas 2 dias de idade africana e que naquela manã estava simplesmente a dar uma vista de olhos: compras só mesmo antes de deixar o Kenya. Mas alguns não se davam por derrotados e continuavam insistindo... Enfim, considerando o facto de que todos vendem praticamente as mesmas coisas e que não são muitos os estrangeiros que passam por ali, era natural que me assediassem com insistência, pois a pobreza é, de facto, angustiante. Porém, não penseis que são todos pobres: há bastantes que vivem bem, mas claro, são uma minoria. Gostei muito do mercado, pois são adepto do que é tradicional, artesanal; haviam tantas coisas que gostaria de comprar, mas terei de pensar somente em coisas pequenas, pois vim só com uma mochila de modo a evitar ter de despachar malas, evitando assim esperas no aeroporto. Assim poderei,. Como faço sempre, ter uma lembrancinha preparada para muitos amigos. Os especiais, como é claro, receberão algo um pouco maior... Mas há uma variedade imensa de coiasas e, como tal, escolher torna-se tarefa difícil.
Bom, regressei a casa, passando por uma pequena loja que os nossos missionários têm na casa paroquial (o nosso santuário da Consolata é uma das paróquias de Nairobi) e vi que têm também coisas bonitas, só que não me agradam muito; gostaria de comprar as lembranças ali, pois as coisas que lá se vendem são feitas por jovens dos bairros-de-lata onde os nosso missonários prestam assistência. Por isso, terei de lá voltar e comprar algumas coisas, pois assim poderei ajudá-los um pouco. De facto, quando fui à Tailândia fiz o mesmo: comprei muitas coisas feitas por indígenas das paróquias e missões católicas, de modo a contribuir para o trabalho que a Igreja faz junto das populações tribais. Só tenho pena de naquela lojita não haver muitas coisas...
Antes de almoçar, encontrei uma... jovem coreana que está cá faz pouco tempo e que tem ideias de ficar por 2 anos; trabalha com a Caritas (organização humanitária da Igreja Católica, a qual está praticamente em todos os países) e está hospedada aqui na nossa casa, pois ainda não conseguiu encontrar alojamente na cidade. Ficou surpreendida e satisfeita por saber que havia um missionário tuga que está no seu país; falámos um pouco e disse-me, entre outras coisas, que há um padre coreano que faz missa aos domingos para a comunidade coreana aqui de Nairobi, a qual parece ser um pouco numerosa. Claro que adorei falar com ela, pois era como estar, por uns instantes, “em casa longe de casa”. Não sei se terei outras oportunidades de falar com ela... A ver vamos. Caso seja possível, aproveitarei também para a entrevistar, pois é uma leiga missionária e, como tal, a sua experiência poderá servir de atractivo a outros jovens coreanos.
Almocei depois antes do tempo, com o padre Elísio, pois iríamos visitar o famoso bairro da Kibera; na Coreia, estão também os missionários mexicanos de Guadalupe e, sendo eu amigo de vários deles, trouxe uma lista com os endereços deles aqui no Kenya, a qual me foi fornecida poelo padre Eugenio, o qual é pároco numa paróquia em Seúl. Ele esteva cá no Kenya em 2005 e aconselhou-me a visitar este imenso bairro, pois ele também o fez e ficou sem palavras. De facto,... também eu fiquei!!! Valeu a pena esperar calmamente duas horas pelo padre Francisco, o qual se atrasou por motivos lugados ao seu trabalho. Levou-nos então à sua paróquia, a qual está inserida num extremo do bairro; esta paróquia, de Cristo Rei, cobre cerca de 70 % da área. Após a entrevista que klhe fiz, mostrou-nos as obras da paróquia, que incluem escola primária, escola profissional-técnica (de costura, cabeleireiro, carpintaria...), uma biblioteca e estavam escavando para a construção da futura igreja. Foram assaltados diversas vezes e teve inclusivo uma vez alguém que lhe apontou a pistola atrás da nuca. Numa outra ocasião, escondeu-se no sótão da escola, senão mata-lo-iam de certeza. As crianças são cerca de 500; há uma escola ali perto secundária, mas o governo ameaça fechá-la, pois diz que ela não está registada! Mas quando passávamos pelas ruas estreitas, sujas, cheirosas... as pessoas olhavam-nos com ar suspeito, mas não as crianças: sempre com um sorriso nos lábios e cumprimentando-nos em inglês. Uma multidão caminhava pra cima e pra baixo; vários estavam diante de uma pequena loja onde um ecrãn de televisão apresentava uma novela keniana; não dava para ver o interior das barracas, mas podia ver-se claramente que a miséria era surpreendentemente chocante. Porém, as pessoas estão organizadas de modo a poderem minimizar os inconvenientes de uma vida naquelas condições. Mas não consigo descrever-vos bem o que presenciei, pois como se cosuma dizer... é só visto! De facto, o padre Elísio dizia-me que lamentava não poder tirar fotos, pois se tivesse um mês ali faria uma reportagem única! Também eu lamentei não poder tirar fotos nas ruas, pois o padre mexicano tinha dito que evitar as fotos, senão a reacção de algumas pessoas seria agressiva. Mas no 1º andar das escolas da paróquia era possível.
Não há dúvida que os missionários de Guadalupe estão fazendo um trabalho de 5 estrelas em prole dos mais pobres e e pena que nem todos consigam entender isto. Porém, gostei imenso de ver o padre Francisco determinado em levar popr diante o projecto de ajuda àquela gente, mesmo sabendo que por vezes corre riscos, incluindo o de morte. Não sei se eu seria jamais capaz de fazer algo assim... Certamente, esta experiência não me deixou indiferente: diante de tal miséria indescritível, só pensava nos coreanos que tanto desperdiçam e que tão ricos são; pensava na nossa sociedade rica e consumista, egoísta e vaidosa, que oprime os mais fracos e os trata como lixo; pensava sobretudo em mim próprio e no quanto sou rico, abençoado e “sortudo”, pois diante de tal situação um fica abananado e incapaz de perceber o porquê de tanta pobreza e miséria, não só material mas sobretudo humana. São imensos os problemas com que aquela gente se debate todos os dias e pensava então no quanto é fácil para nós, ricos (e falo mais por mim, claro!), queixar-mo-nos sem termos a mínima razão para o fazermos. Visitar a Kibera ajudou-me a repensar as prioridades; visitar a Kibera é um convite a um estilo de vida mais centrado no próximo e nas necessidades dele; visitar Kibera é um tomar consciência de que há ainda muito para fazer a nível de promoção humana e, que a nível pessoal, devo ser mais humilde, mais centrado na vida dos outros, menos egoísta e acomodado...
Agradeço ao nosso Amigão esta oportunidade que me ofereceu de conhecer esta realidade e de ver a Igreja no meio dos pobres, lutando e trabalhando para lhes comunicar e partilhar com eles a consolação e amor de Deus. Peço-lhe que esta experiência não seja “mais uma”, mas uma que me ajuda a rever as minhas prioridades e a focar a minha vida, energias e atenção naquilo que é fundamental e não em coisas mesquinhas e secundárias.
Bom, o padre Francisco trouxe-nos a casa e saí, depois de um banho super refrescante (pois tava coberto de pó, característica dominante em Kibera... quando não chove, claro). Sim, saí novamente, mas desta vez para viver uma outra experiência marcante desta minha estadia no Kenya: fui jantar com a mãe, uma irmã e sua família de um meu colega keniano que está lá na Coreia comigo. O cunhado veio buscar-me com os sobrinhos, que são muuito giros. É, também no Kenya as crianças são as criaturas mais lindas do Criador. Falámos bastante (ainda por cima, sendo eu um fala-barato), até porque a irmã estava curiosa sobre muitas coisas ligadas com a Coreia, seu mano, etc. Comi comida keniana pela primeira vez, pois aqui em nossa casa o estilo da comida é italiano. Não vale a pena estar aqui a dizer porquê, senão não acabo nunca,. Adorei esta visita, pois sendo a família de um meu mano missionário... é família minha! De facto, o meu coração palpitava do mesmo modo quando visito os meus familiares aí em Portugal; estranho, não? Mas era uma sensação muito boa. Lembrei-me da passagem dio evangelho em que Jesus diz aos discípulos que quem deixa pai, mãe, família e tudo mais por sua causa, receberá 100 vezes mais... e é verdade!!! Gostei imenso de conhecê-los, sobretudo a mãe do Peter, meu colega: uma típica avó keniana, com olhar intenso e um sorriso cativante, pele escura e vestido tradicional. Ofereceram-me também um cinto e pulseira tradicionais, mas... não me serviam. Assim, quando os for visitar novamente antes de regressar, oferecer-me-ão uns novos. Espero dessa vez encontrar a outra irmã e algum dos 4 irmãos. No fim, A irmã, com o marido, trouxe-me a casa e falava do quanto tinha gostado da minha visita. Sim, foi uma experiência linda e muito familiar. Adorei mega...
Bom, fico por aqui.
Amanhã há mais.

Asante sana (obrigado!).

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